segunda-feira, 20 de abril de 2015

Robalos em Odemira


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Caros amigos,

Já há muito que gostava de escrever um "artigo" dedicado em exclusivo aos nossos amigos robalos, mas dirigindo a sua pesca exclusivamente a águas salobras/interiores, ou seja, no Rio Mira, especificamente na Zona Ribeirinha de Odemira.

I - Rio Mira  

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O Rio Mira nasce na Serra do Caldeirão, a uma altitude de 470 m, e percorre cerca de 145 km até desaguar em Vila Nova de Milfontes. É dos poucos rios da Europa que corre de Sul para Norte, tal como o rio Sado. É navegável desde a foz até um pouco acima de Odemira, embora a partir da zona de Odemira seja impossível navegar de barco na maré vazia devido aos inúmeros bancos de sedimentos que se encontram.  
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Desde que me lembro, tenho assistido a um assoreamento "gigantesco" na zona ribeirinha em Odemira. Onde outrora, neste rio que servia como via de transporte de bens, grandes barcos aportavam no cais (em Odemira), hoje torna-se impossível. Para quem conhece a zona ribeirinha de Odemira, pode verificar à maré vazia duas "ilhas", uma a montante do cais outra a jusante (isto para além das formadas a montante).

As margens do Rio Mira são de difícil acesso. Não falando em acessos viários, podemos dividir a composição das margens em duas metades: 1.º A montante da "Comporta", onde desagua a Ribeira do Vale de Gomes, as margens são compostas na sua maioria por caniços. 2.º A jusante da "Comporta" as margens já são "mais limpas" de caniços, sendo basicamente sapais. De referir que noutros tempos as margens do Rio Mira eram cultivadas na sua maioria pela lavra do arroz.

II - Espécies piscicolas
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Podemos encontrar em quase todo o Mira quase todas as espécies piscicolas marinhas e também algumas mais incomuns, ditas de água doce. Passo a enumerar as mais comummente encontradas: Dourada, Sargo, Safia, Sargo-veado, Charroco, Corvina (sazonal), Salema, Robalo, Vária/Baila, Tainha Salmonete, Linguado, Solha, Enguia, Safio, Carpa e ocasionalmente lá poderemos encontrar o Barbo ou até mesmo o achigã (como eu já vi em Odemira). No passado ano de 2014 já começaram a aparecer os chamados alburnetes/alburnos/abletes. Claro está que algumas espécies não "sobem" tanto o rio quanto outras, sendo que em Odemira o que mais comummente encontramos são as tainhas, robalos, carpas e enguias. Ocasionalmente podemos deparar-nos com a captura de um barbo, dourada, pequenos sargos e safias ou linguado/solha.

III - O robalo e o Mira
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Os robalos são assíduos no Mira todo o ano, embora os seus tamanhos possam variar consoante a época em que estamos, salinidade e comida disponível. Em Odemira, verificamos que a sua presença é periódica. Passo a enumerar os factores mais comuns explicando dentro de cada um o porquê da sua presença/ausência.

1.º Salinidade - O robalo é peixe de água salgada, logo e teoricamente não sobreviverá em águas doces. Quando encontramos a "água doce"? Em épocas de pluviosidade intensa. Nestas alturas, em que chove muito, é difícil encontrar robalos de "grande porte", por Odemira, embora hajam relatos de capturas ocasionais. Embora nestas alturas de chuvas mais intensas que escurecem as águas tornando-as barrentas, por vezes "podemos" realizar grandes quantidades de capturas de juvenis. Ainda por estes dias vi, com as águas barrentas, grandes ataques de pequenos robalos à superficie.

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2.º Comida - Devido ao seu comportamento de predador, será normal encontrá-los em busca da referida. Basicamente os robalos no Mira, nomeadamente em Odemira alimenta-se de pequenos peixes «tainhas/robalos», tainhas «é comum encontra-los junto aos cardumes», camarão «é o preferido do nosso predador, marcam a sua presença mais abundante entre Julho e Setembro onde á noite é comum observar os seus ataques» e crustáceos «os lagostins, pela sua abundância, são os eleitos»

3.º Desova - Os robalos desde sempre gostaram de desovar no Rio Mira, entre os meses de Dezembro e Março (se as águas forem claras) começam a verificar-se avistamentos na Zona Ribeirinha de Odemira. Estes têm por tendência ir desovar perto da Ribeira do Mira, a montante da ponte de Odemira. Nesta altura vemos grandes exemplares aqui na zona, sendo que de vez enquando realizam-se umas belas capturas.
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4.º Temperaturas das águas - Este talvez seja o ponto que eu considero mais importante. Talvez porque quanto mais quentes estão as águas, mais alimento está disponível -principalmente camarão- mais activos estão os robalos.
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5.º Locais - Ao longo da minha vida enquanto pescador tenho apostado em diversos locais em função do tipo de pesca que pratico. Antes de praticar spinning apostava na pesca de fundo, procurando os nossos amigos nos fundões ou então procurava-os junto aos cardumes de tainhas onde pescava à boia. Em ambas as pescas obtive bons resultados, embora na pesca de fundo os exemplares capturados sejam juvenis. Posso dizer que aqui é o meu crescimento pessoal enquanto pescador, pois abandonei esta pesca de fundo pelo facto de serem maioritariamente os robalos juvenis capturados. Hoje em dia apenas me dedico ao spinning procurando exemplares acima da medida.

Os melhores resultados que obtive foram à bóia e principalmente ao spinning. Na técnica de bóia bastava “estar de olho” nas tainhas. Estas juntavam-se me torno dos esgotos que corriam para o rio antes de existirem as obras de requalificação da Vila de Odemira, e quase sempre, assim que os robalos chegavam procuravam esta comida fácil. Cheguei a fazer aproximadamente 20 kg de robalos (exemplares entre as 700 gr e os 2 kg) em dois dias com minhoca do lodo e pescando à bóia nesta altura em que eles aportavam junto das tainhas. Actualmente, uma vez dedicado ao spinning, procuro as ilhas e as margens. Basicamente são ou sítios de passagem ou sítios onde os pequenos peixes e/ou camarão acolhem, sendo de fácil captura para os predadores. No ano de 2013 foi o ano em mais robalos vi no Rio Mira e onde realizei algumas capturas engraçadas ao spinning. Neste ano, os robalos procuravam os pequenos peixes nas margens, sendo frequente ver enormes ataques em cardume. Cheguei a contar 14 exemplares juntos (onde consegui capturar apenas um – aproximadamente 1,5kg) a "bater" as margens. O máximo que capturei nesta altura foram quase 6 kg em 4 exemplares e 2 canas partidas eheheheh 2013 foi sem dúvida o meu melhor ano no Rio Mira com troféus muito bons e o meu maior troféu 6,200 kg.
 
 Espero que gostem da minha opinião sobre os nossos amigos. Mas este "artigo" é apenas isso, a minha opinião. Há sempre quem concorde, quem discorde e quem acrescente mais uns pontos... Portanto meus amigos, estejam abertos a comentar à vontade pois a vossa opinião, os vossos conhecimentos são sempre úteis.
 
 
Um bem haja,

6 comentários:

  1. Comé Luis!
    Desde já deixa-me dar-te os parabéns pelo que escreveste, praticar spinning em aguas salobras acaba por ser um spinning diferente...
    Tens uma boa alternativa para quando o mar está bruto no inverno... Há uns anos atrás tive em Milfontes e à conversa com uns pescadores no café disseram me que se apanhavam uns robalos bons no rio... Desde então sempre tive a curiosidade de ir aí no rigor do inverno tentar a sorte, mas sei que é preciso conhecer os cantos à casa e não é só chegar e facturar... Mas o tempo vai passando e até à data ainda não me opus, talvez por ser um pouco longe também...

    Mais uma vez parabéns pelo artigo e um abraço...
    Força aí.

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    1. Boas Pedro,

      Sem duvida que é uma alternativa e bem boa :) Mas cada sitio/zona do rio tem a sua especificidade! Em Milfontes o comportamento é diferente, a morfologia do rio é diferente e sinceramente não tenho nenhuma experiência em pescar em Milfontes ao spinning! Aqui em Odemira, um dia que passes por cá dizes qq coisa que a malta vai dar por ai uma volta mais que não seja só para apreciar a paisagem!

      Obrigado pelas felicitações,

      Abraço

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  2. Boas Luís,

    grande artigo, eu li o ano passado que o Mira é considerado o Rio mais limpo/menos poluido da Europa ;)

    Bom artigo e vai testando novas teorias que ás vezes por menos provável que seja, eles andam lá ;)

    Grd abr

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  3. Boas Matos,

    Obrigado. Desde as recentes obras do Polis acho que houve melhorias significativas. Pelo menos 2 dos esgotos que corriam dentro da vila já não correm!

    Quanto às novas teorias.... Anda sempre qq coisa na manga! Sempre à procura de algo "fatal" ehehehhehe

    Grande abraço

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